A temática da ansiedade tomou tamanha proporção atualmente que nos faz pensar sobre a relevância de se discutir sobre o assunto. Primeiramente, é importante dizer o que significa ansiedade. De uma forma simples ela é entendida como um conjunto de respostas do nosso corpo, comum na espécie humana, tais como: aumento da frequência cardíaca (taquicardia) e respiratória, sudorese, tremores, sensação de falta de ar, desconforto abdominal, dentre outros. Este último, por exemplo, acontece por conta da baixa disponibilidade de sangue na área abdominal (1), e é o que geralmente chamam de “frio na barriga” antes de alguma apresentação, reunião ou encontro importante. Também se sabe que a ansiedade ocorre no campo da mente, sendo chamada de preocupação e tem como importante característica a apreensão de que resultados negativos ou “catastróficos” podem acontecer conosco ou com pessoas importantes da nossa vida(2).
Todas estas respostas foram importantes para a evolução da espécie e existem até hoje. Preocupar-se com um possível perigo poderia significar a preparação para uma luta ou fuga, o que seria responsável pela vida ou morte dos primeiros seres humanos.
Após o esclarecimento da definição da palavra ansiedade, surge uma grande dúvida: até que ponto a ansiedade é considerada normal e quando ela passa a se constituir como um problema, ou seja, quando a ansiedade começa a se tornar o que as pesquisas trazem como “ansiedade patológica”? Primeiramente, cabe-se dizer que a ansiedade é uma condição normal(3) em situações específicas da vida das pessoas, como a que ocorre antes de uma entrevista de emprego ou um encontro importante.
Porém, quando as reações do corpo (taquicardia, respiração alterada, dor estomacal) passam a trazer sofrimento para o indivíduo, a ponto de causar prejuízo em áreas como a profissional, acadêmica, pessoal, é possível se aproximar do diagnóstico de um “Transtorno de Ansiedade”(1). Para o diagnóstico do Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG), além do que foi levantado acima, é preciso identificar se há duração destes eventos por pelo menos seis meses e se eles ocorrem na maioria dos dias. Também se levam em conta outros aspectos como expectativas apreensivas que os indivíduos sentem dificuldade para controlar(4). Assim, é muito importante que seja analisada com cautela a frequência e se há ou não eventos que estão relacionados a tais respostas fisiológicas antes de se fechar um diagnóstico, sempre acompanhado de um psicólogo e psiquiatra.
Para pensar em tratamentos para a ansiedade é preciso entender que além da predisposição genética, a ansiedade pode ser mantida pela aprendizagem(5). Então, se alguns comportamentos podem se manter via aprendizagem, eles podem ser trabalhados no processo de psicoterapia. Para isso, é possível explorar as áreas de desenvolvimento de habilidades sociais(6), promovendo comportamentos mais assertivos. Também costuma-se utilizar o Treinamento de Solução de Problemas(7) a fim de que o indivíduo aprenda a lidar mais facilmente com dificuldades quanto à tomada de decisão.
Como a ansiedade também ocorre no campo cognitivo, de pensamento, são utilizadas abordagens que analisam as avaliações que o indivíduo faz de situações de sua vida, assim como de suas próprias emoções e pensamentos (2).
Referências
1. BRAVIN, André Amaral; DE-FARIAS, Ana Karina Curado Rangel. Análise Comportamental do Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG). In: de-FARIAS, Ana Karina C. R. et al. (Org.). Análise comportamental clínica: aspectos teóricos e estudos de caso. Porto Alegre: Artmed, 2010. cap. 7.
2. BECK, Aaron T.; CLARK, David A. Terapia cognitiva para os transtornos de ansiedade. Porto Alegre: Artmed, 2011.
3. BRAGA, J.E.F. et al. Ansiedade Patológica: Bases Neurais e Avanços na Abordagem. Psicofarmacológica. Revista Bras. de Saúde, n. 14(2) 2010. Disponível em: http://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/rbcs/article/view/8207/5320. Acesso em: 03/03/2017.
4. AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5. 5.ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.
5. BARNHILL, John W. Casos clínicos do DSM-5. Porto Alegre: Artmed, 2015.
6. KISSACK, Myriam Rodríguez de; LEÓN, Nancy Consuelo Martínez. Transtorno de ansiedade generalizada e transtorno de pânico em crianças e adolescentes. In: CABALLO, Vicente E.; SIMÓN, Miguel Ángel (Orgs.). Manual de psicologia clínica infantil e do adolescente: transtornos gerais. São Paulo: Santos, 2014. cap. 3.
7. D´ZURILLA, Thomas J, NEZU, Arthur M. Terapia em solução de problemas: uma abordagem positiva à intervenção clínica. São Paulo: Roca, 2010.
Jean Luca Lunardi Laureano da Silva
Psicólogo
CRP: 06/134351